O espírito de pobreza

Fonte: Distrito de Espanha e Portugal

Nestes tempos de crise económica, as dificuldades financeiras são o destino de muitas famílias numerosas. Mas não basta ser materialmente pobre para beneficiar da bem-aventurança anunciada por Nosso Senhor, que proclamou bem-aventurados os pobres em espírito, isto é, aqueles que fizeram da pobreza uma virtude, não se apegando ao que possuem nem tendo inveja do que não têm. Então, como é que podemos ajudar os nossos filhos a adquirir o espírito de pobreza? Comecemos por sugerir alguns exemplos de «gestos pobres» a praticar no quotidiano.

Pobreza na alimentação: não deitamos fora restos de comida ou pão seco, mas a mãe sabe como escondê-los habilmente noutra receita ou transformá-los numa deliciosa «sopa surpresa». Os lanches são pão e compota ou chocolate, ficando os biscoitos reservados para os domingos.

Pobreza no vestuário: as roupas são remendadas e não deitadas fora ao mais pequeno defeito. Na mudança de estação, retiramos as caixas de roupa que são demasiado pequenas para as crianças mais velhas e procuramos roupa que sirva às mais novas – talvez uma oportunidade para passar algum tempo de qualidade em família! Os mais velhos também não estão sempre vestidos com roupas novas, pois organizamos feiras de roupa para a família. O guarda-roupa limita-se ao que é necessário – não há necessidade de dez camisolas.

Pobreza no material escolar: ninguém compra um estojo, uma mochila e uns lápis novos todos os anos. No final do ano lectivo, as folhas de caderno não utilizadas, bem cortadas, podem ser utilizadas como rascunhos para o ano seguinte. Em vez de material assinado por grandes marcas ou personagens da moda, opte por artigos mais simples, mesmo que isso signifique personalizar a capa dos cadernos com uma fotografia bonita, por exemplo.

Pobreza nas prendas: em vez de um brinquedo caro, preferimos um objecto mais simples, cujo valor deriva do facto de ter sido feito pela mãe ou pelo pai, como um papagaio ou uma boneca de trapos, e, de vez em quando, oferecemos, em vez de um brinquedo, uma prenda útil, como uma peça de roupa, uma mochila ou uma estante.

«Um homem pobre é cuidadoso»: muitos destes conselhos só podem ser concretizados se a criança aprender a ter cuidado com as suas coisas, a fazê-las durar e a não as perder, porque comprar coisas novas para substituir as perdidas custa dinheiro ao pai trabalhador. Para isso, quando a criança parte para o colégio interno, é-lhe dada uma lista do que leva consigo, para que possa verificar se tudo está lá quando regressar, e todas as suas coisas são marcadas com o seu nome. Terão de se dar ao trabalho de procurar tudo o que se possa ter perdido. Não subirá às árvores com o seu fato de domingo e certificar-se-á de que as suas canetas de feltro estão bem fechadas...

Nem é preciso dizer que parcimónia não é avareza. Vamos dar à criança aquilo de que ela razoavelmente precisa. A parcimónia cria mais pessoas insatisfeitas do que virtuosas. Trata-se simplesmente de considerar que os bens materiais não são o essencial da vida e que não trazem felicidade, e de preferir o que é simples e modesto ao que cheira a luxo e moleza. Mas se as necessidades materiais essenciais da criança forem satisfeitas pelos seus pais, será bom que não as tome por garantidas e, consequentemente, que seja ensinada a agradecer o que recebe.

As crianças também aprendem a emprestar o que é seu aos seus irmãos e irmãs, para que o cuidado com os seus pertences não se transforme numa posse ciumenta; os pertences são feitos para serem usados! Também partilharão os presentes e os doces que receberam. As crianças são rápidas a dar provas de generosidade se lhes for dado um motivo sobrenatural, por exemplo, recorrendo ao mealheiro para ajudar uma missão num país pobre, ou se ficarem sem doces durante a Quaresma por uma boa causa.

O hábito de ser parcimonioso ajudará as crianças a amadurecer, como testemunham, por exemplo, as palavras de Pauline Martin, irmã de Santa Teresa do Menino Jesus, que estava num colégio interno aos onze anos de idade, quando a sua irmã mais velha lhe dizia enquanto ela estudava: «Não vamos perder o nosso tempo, porque é o dinheiro da mamã e do papá.»

Habituada a ser económica, a criança experimenta facilmente alegrias simples quando há uma pequena mudança na rotina, como uma pequena prenda ou um piquenique. As crianças mimadas e insensíveis não experimentam essas alegrias, pois nada lhes parece extraordinário, porque têm tudo o que querem. Sim, bem-aventurados os pobres, porque a sua verdadeira riqueza está no Céu.        

 

As Irmãs da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X