A Compaixão de Nossa Senhora

Fonte: Distrito de Espanha e Portugal

Neste dia, a liturgia celebra a Compaixão de Nossa Senhora. Esforcemo-nos por nos associar aos sofrimentos que a nossa Mãe suportou aos pés da Cruz pela nossa salvação, em união com o seu divino Filho.

«Podemos imaginar um tormento espiritual mais terrível do que a compaixão de Maria perante a crucificação do seu Filho? A sua angústia e aflição eram como uma espada a trespassar-lhe o coração, tal como Simeão tinha profetizado aquando da apresentação de Jesus no templo.

«Se o próprio Nosso Senhor, no Getsémani, achou a perspectiva do Seu sofrimento tão insuportável que Lhe arrancou gotas de sangue e a Sua alma até torceu o Seu sagrado corpo de dor, então podemos ver nessa agonia uma imagem da dor espiritual de Maria.

«Esta dor afectou tanto a sua alma como o seu corpo, e causou o seu martírio. O coração e a alma de Maria devem ter-se liquefeito quando esteve debaixo da cruz do seu Filho e quando, finalmente, o Seu corpo sem vida foi colocado no seu colo» (Cardeal Newman).

Desde a hora da Anunciação, uma escuridão terrível e impenetrável envolveu a vida de Maria, uma escuridão de que ela se tornava cada vez mais consciente mês a mês. Maria sabia que o futuro escondia um sofrimento indizível, mas não sabia o que seria nem quando aconteceria.

No entanto, conhecia as palavras do profeta, a imagem do Messias como homem de dores, e, por isso, já na Anunciação compreendeu claramente que o seu filho seria um filho de dores. O velho Simeão confirmou este conhecimento com uma predição de um peso sem precedentes: o seu Filho seria um sinal de contradição e a sua alma imaculada seria trespassada por uma espada.

Depois, o seu filho de doze anos, com o seu comportamento intrigante e a sua reacção majestosa, lançou uma sombra ainda mais negra sobre um futuro tão ameaçador. Os anos do ministério público do seu divino Filho trouxeram-lhe uma angústia interior crescente quanto ao desfecho final, pois as predições de Jesus já estavam a delinear os seus terríveis contornos. O percurso de Maria na terra desenrolou-se numa escuridão incomparável.

Porque é que a Virgem Maria teve de carregar esta incerteza negra como uma cruz durante toda a sua vida? Ao longo de toda a Sua vida, Jesus Cristo, o novo Adão, viu o terrível fim que o esperava tão claramente como uma visão e, de cabeça erguida, dirigiu-se para Jerusalém. Com isso, Ele tinha uma visão e um plano para o Seu futuro que estava muito acima de todos os planos humanos.

Mas o destino comum, que tão terrivelmente obriga o pobre coração humano a caminhar irremediavelmente no meio das trevas, devia também encontrar o seu exemplo e a sua consolação no mistério da redenção. Por isso, Maria, a nova Eva, teve de suportar este sofrimento ao seu lado. É o heroísmo da entrega à vontade incerta do Altíssimo.

Também para Maria as trevas se iluminaram no Gólgota, quando reconheceu o seu último dever sacrificial: oferecer o mais precioso de todos os dons, imolar o Preço da Redenção, que era também só seu, e aceitar oferecê-Lo de uma forma tão atroz.

O Crucificado suspenso diante dos seus olhos, o Cordeiro imaculado do sacrifício a quem ela tinha dado este Corpo tão puro e belo, estava agora desfigurado. Pela perfeita harmonia dos Seus sentimentos, pelo Seu Coração e pela Sua alma, pela Sua força e pela Sua doçura, Jesus é a imagem perfeita da perfeição humana; Maria viu este milagre desenvolver-se e manifestar-se progressivamente diante dos seus olhos; durante toda a Sua infância, foi ela que lhe dispensou cuidados maternais.

E agora que Ele atingiu a idade da perfeita virilidade, Maria dá-O como oferenda, diz o seu Fiat à imolação desta vítima preciosa. Maria consente livremente nesta perda, que para ela é inimaginavelmente amarga. Realiza, assim, um acto real de uma grandeza heróica sem precedentes: em união com o Rei das Dores, transforma a própria dor para que esta dê maior glória a Deus e para a salvação do mundo.