Jubileu Extraordinário da Misericórdia
Carta do Superior da Casa Autónoma: Editorial de “Tradición Católica” nº 253 (outubro-dezembro de 2015).
No último dia 1º de setembro, o papa Francisco escreveu a Dom Fisichella, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, por motivo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia que começará em 8 de dezembro de 2015 e terminará no dia 26 de novembro de 2016. A carta contém indicações específicas sobre o perdão de pecados graves como o aborto - dando a faculdade de absolvê-lo a todos os padres - e fala sobre as indulgências plenárias, sobre as obras de misericórdia e outros temas relacionados. No final do documento, contra toda expectativa, menciona a Fraternidade São Pio X:
Uma última consideração é dirigida aos fiéis que por diversos motivos sentem o desejo de frequentar as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade São Pio X. Este Ano Jubilar da Misericórdia não exclui ninguém. De diversas partes, alguns irmãos Bispos referiram-me acerca da sua boa fé e prática sacramental, porém unida à dificuldade de viver uma condição pastoralmente árdua. Confio que no futuro próximo se possam encontrar soluções para recuperar a plena comunhão com os sacerdotes e os superiores da Fraternidade. Entretanto, movido pela exigência de corresponder ao bem destes fiéis, estabeleço por minha própria vontade que quantos, durante o Ano Santo da Misericórdia, se aproximarem para celebrar o Sacramento da Reconciliação junto dos sacerdotes da Fraternidade São Pio X, recebam validamente e licitamente a absolvição dos seus pecados.”
Ao ler este texto, várias reflexões se apresentam:
1 - Os padres da Fraternidade São Pio X nunca tiveram a menor dúvida sobre a validez das absolvições (nem dos matrimônios) que administraram desde a fundação da congregação. Todas foram perfeitamente válidas e lícitas, devido à crise dramática pela qual atravessa a Igreja desde o Concílio. Os fiéis que pedem aos padres da Fraternidade para ser ouvidos em confissão ou para receber o sacramento do matrimônio podem ficar tranquilos, porque alcançaram o perdão de seus pecados e sua união foi abençoada ante Deus e a Igreja. Quantas pessoas vêm confessar-se conosco porque duvidam do valor do sacramento concedido pelos padres modernos que, ou não creem no pecado, ou não aconselham devidamente, deixando de recordar as obrigações com as quais todo católico deve cumprir para viver em estado de graça.
Segundo o Código de Direito Canónico de 1917, cânon 213, “os laicos têm direito a receber do clero, conforme as regras da disciplina eclesiástica, os bens espirituais e especialmente a ajuda necessária para a salvação”. Quando um padre não tem a jurisdição ordinária concedida pelo Ordinário do lugar, como é o caso da Fraternidade, para promover o bem sobrenatural das almas, a Igreja supre a ausência de jurisdição canónica, ou melhor, a Igreja concede a jurisdição necessária para a eficácia do ato sacramental em benefício das almas. Isto se aplica não somente às confissões, mas também aos matrimônios, em razão dos perigos para a fé e para a moral no ambiente do modernismo, que supõem um prejuízo espiritual notável para os fiéis.
2 - Consideramos que este documento do papa pode beneficiar aquelas pessoas que ainda têm excessivas inquietudes em relação à Fraternidade São Pio X. Para muitos católicos "conservadores" ou da linha "Ecclesia Dei", a doutrina pregada pelos padres da Fraternidade é impecável, mas, no momento de vir a nossas capelas, sentem certo temor: estão ou não estão dentro da Igreja? Esse gesto do papa poderá tranquilizar essas consciências, permitindo-lhes receber a misericórdia divina sem nenhum escrúpulo.
3 - Quando acabe o Jubileu, com jurisdição ordinária ou sem ela, não haverá nenhuma mudança na Fraternidade. Continuaremos exercendo nosso ministério como o fizemos até hoje, porque “a salvação das almas é a lei suprema da Igreja”. Somos católicos, sem nenhum complexo, e, apesar de sermos tratados por alguns como cismáticos ou excomungados, como desobedientes ou "sem papéis", temos a consciência de estar prestando o melhor serviço possível a uma Igreja que neste momento é atacada como nunca por seus inimigos.
4 - Em relação à frase: “Confio que no futuro próximo se possam encontrar soluções para recuperar a plena comunhão com os sacerdotes e os superiores da Fraternidade”, nosso Superior Geral, Dom Bernard Fellay, nos lembra da necessidade de manter uma grande vigilância e uma grande confiança.
Vigilância porque não falamos o mesmo idioma que Roma, não pensamos o mesmo sobre pontos essenciais da nossa fé e não compartimos as práticas atuais em muitas de suas manifestações. Rejeitamos a Nova Missa e o Concílio Vaticano II por motivos de fé. Ecumenismo e liberdade religiosa não são aceitáveis para um católico. São coisas contrárias às palavras de Nosso Senhor: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado se salvará, mas aquele que não crer se condenará” (Mc. 16, 15-16). Os padres e os superiores da Fraternidade têm uma linha de ação que não mudará; é Roma a que tem que mudar, aceitando a Tradição com todos os seus direitos.
Ao mesmo tempo, devemos ter confiança, porque esperamos que Deus, que suscitou a Fraternidade, nos ajudará a continuar caminhando por meio das tempestades que se apresentam nesta crise sem precedentes e que não dá indícios de que terminará logo.
Aproveitamos também este número de "Tradición Católica" para destacar a santidade de Santa Teresa de Jesus, cujo Vº centenário de nascimento celebramos neste ano. A ela, que promoveu a reforma do Carmelo devido à laxidão em que havia caído e que rezou e mandou rezar em seus conventos contra os erros do protestantismo, pedimos que nos ajude a permanecer fiéis à fé que ela professou e pela qual morreu: “Morro filha da Igreja”.