
O Advento significa vinda. Nestas quatro semanas que antecedem o Natal, a Igreja deseja comemorar dignamente a vinda de Jesus Cristo Salvador, e animar a nossa fé na vinda de Jesus Cristo, o Juiz universal dos vivos e dos mortos. Estas duas vindas visíveis de Jesus Cristo, uma de humildade, a outra de majestade; uma de amor, a outra de terror; ambas renovadoras da terra; uma de fogo ardente de caridade, a outra de fogo de justiça, são ambas dignas da nossa consideração.
PRIMEIRA VINDA: COMO SALVADOR
O primeiro advento de Jesus Cristo foi ardentemente desejado, e ansiosamente esperado durante quatro mil anos, pelos Patriarcas, Profetas e Santos do Antigo Testamento. Que desejo tinham aquelas pessoas de ver o Salvador do mundo! Feliz é o ancião Simeão por ter visto o Salvador das nações: "Agora, Senhor", exclama com alegria, "deixa o teu servo partir em paz, pois os meus olhos viram a salvação que preparaste aos olhos das nações, uma luz a ser revelada aos gentios, e a glória de Israel, o teu povo" (Lucas 2). Bem-aventurados os olhos que vêem o que vedes", diz Nosso Senhor aos seus discípulos, "porque verdadeiramente vos digo, muitos profetas e reis ansiavam por ver o que vedes e não o viram" (Lucas 10,23-24). É verdade que nem todos tinham um desejo tão forte de ver Jesus como os profetas tinham. O mundo antigo, mesmo que não se sentisse feliz, mesmo que gemesse nas correntes da escravidão ao pecado, persistiu obstinadamente nos seus erros e procurou a felicidade nas coisas da terra. Na ideia de um Redentor universal esperado pelos povos, vislumbrava-se um grande pacificador ou conquistador do mundo, que sob o seu ceptro devia unir todos os homens, formando entre eles uma grande família mundial. O próprio povo escolhido, os judeus, nada mais esperavam do Messias senão a libertação de Israel do jugo romano, a grandeza da nação, e a supremacia sobre todos os outros. O inferno iria perpetuar-se no mundo com novos tormentos e novos atormentadores. Nada mais.
SEGUNDA VINDA: COMO JUIZ
O segundo advento de Jesus Cristo é o objecto do desejo mais ardente das almas crentes, que incessantemente, recitando o Pai-Nosso, se dirigem ao Pai no céu para que o Seu reino venha até nós; para que haja um só rebanho e um só pastor; para que o sangue dos santos, derramado como água sobre a terra, seja vingado. A segunda vinda de Cristo terá lugar quando menos se espera que ocorra. O dia da Sua segunda vinda será um dia de alegria para os justos, um dia de horror para os ímpios. O mundo moderno será surpreendido no meio da sua dissolução com a vinda de Cristo. Muito mais culpado do que o mundo antigo é o mundo moderno, pois se o mundo antigo estava simplesmente na escuridão da morte, o mundo moderno rebelou-se contra Cristo e a Sua santa lei, cometendo os erros mais abomináveis do paganismo.
TERCEIRA VINDA: PELA SUA GRAÇA
Entre o primeiro e o segundo advento de Cristo, Jesus vem ao mundo invisivelmente, comunicando-se às almas santas pela Sua graça. "Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós", prometeu ele aos seus discípulos. "Aquele que me ama manterá a minha doutrina, e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e faremos a nossa morada dentro dele" (João 14 18-23). Jesus vem à nossa alma como um amigo, como um irmão. Jesus vem com a sua cruz para purificar as nossas almas, para transformar os nossos corações com as suas palavras consoladoras e graças: ele vem em Sagrada Comunhão para nos fazer um só com ele. Que Jesus não seja para nós um Deus desconhecido! Que ele não nos possa aplicar a queixa que fez contra os judeus: "O meu povo não quis ouvir a minha voz, e Israel não me quis obedecer" (Salmo 80, 21).
A Igreja quer que nos lembremos especialmente no tempo do Advento que não nascemos para o tempo, mas para a eternidade. A Igreja quer que estejamos convencidos da verdade de que só Cristo é a nossa salvação; que só Ele é a nossa grandeza; que Cristo é hoje, ontem e em todas as épocas.
A Igreja quer que unamos o primeiro Advento ao segundo, através do Advento espiritual, para que, tendo-o acolhido com alegria como Redentor, possamos recebê-lo com um espírito sereno, como Juiz.
Também para as pessoas mundanas, o Dia de Natal é uma grande festa que se reduz a uma celebração familiar íntima. Para eles, o presépio não é mais do que um brinquedo engraçado. Para os verdadeiros cristãos, o Natal é algo bastante diferente; para eles o Natal é a grande festa familiar dos eleitos; é a festa do nascimento de Jesus na alma; aquele nascimento que ocorre nas mesmas condições que o mistério de Belém, na pobreza e solidão, no meio da homenagem e adoração de poucos, e da indiferença e hostilidade de muitos. Por esta razão, a Igreja rodeia o Advento com uma doce melancolia e tristeza e, seguindo o exemplo do grande Baptista, grita no deserto do mundo: "Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas".